terça-feira, 22 de junho de 2010

Homenagem ao Zé do Rio - Título de Cidadão Caxiense





No dia 15 de abril de 2010, José de Oliveira, conhecido por todos como Zé do Rio, recebeu o título de Cidadão Caxiense na Câmara dos Vereadores de Caxias do Sul.
Segue abaixo discurso proferido pela Coordenadora da ACAT (Associação Caxiense de Teatro) Tina Andrighetti em homenagem ao Zé.

Uma boa noite a todos e em especial, ao Zé, porque a noite é dele. Em nome da Associação Caxiense de Teatro, gostaria de registrar o quanto o Zé merece esse reconhecimento. Quando o Zé, numa ocasião, manifestou esse desejo, fui muito reticente e preconceituosa. Não por achar que ele não merecesse, mas porque eu não gosto de títulos. E isso ocupou meus pensamentos por um tempo, conversei com algumas pessoas. Evidentemente eu respeito, senão não estaria aqui. Aí a iniciativa de homenagear o Zé do Rio foi criticada, o vereador Beltrão foi criticado, o Zé!!! Foi ciritcado! Acho que da mesma forma que outras homenagens devem ter sido criticadas. Isso causou não só em mim uma irritação, porque o Zé está aqui há mais de 30 anos e marcou muito bem a sua presença. Mas depois pensamos no direito que "os críticos" tinham de se manifestar, mesmo que a opinião fosse essa. Na época não foi possível a gente se pronunciar, rebater (Semana do Teatro), mas acabou sendo interessante porque eu pensei e conversei sobre o que é ser cidadão, seja caxiense ou do mundo. Pensei em mim, na minha família, nos amigos em outras pessoas... Que critérios escolhem o cidadão? Aí lembrei de uma piadinha da Etiópia, meio velha. Da época que a Etiópia era mais bambambam e mais teleturística que o Haiti, ou Brasil. Porque não é mais o Hawaí, hoje Caetano deveria cantar "o Haiti é aqui". Mas enfim, o Papai Noel sobrevoava a Etiópia e, olhando para as crianças lá embaixo disse: Hohoho! Criançinha que não come não ganha presente! Essa é a nossa sociedade, as políticas são regidas por esse princípio. O cara se acabando no craque, nunca vai ganhar um título, porque ele não escreveu livros ou fez coisas edificantes para a cidade. Como não? Está fazendo sim. Deveriam ao menos reconhecer que é ele quem sustenta principalmente todos os excessos materiais da população, a possibilidade do outro escrever o livro. Ao menos nessas condições.
O funcionário-padrão, o artista que se acomoda ou se vende, a menina que se prostitui, o menino que assalta... Ou seja, a sociedade se divide em superiores e inferiores. Quem tem a sorte ou a lucidez ou, na pior das hipóteses, a esperteza, pode ser mediano. É essa consciência que parece faltar. Da carência que o capitalismo planta, das deficiências que cria e dos direitos que rouba, para depois se apenas indiferente. Ou no máximo, bancar o superior bonzinho que ajuda o necessitado. E é essa consciência que o Zé sempre demonstrou ter. O Zé é sim, cidadão. Caxiense porque mora aqui há muitos anos. O Zé sempre respeitou leis, respeitou as pessoas, respeitou a natureza das coisas, trabalhou pelos artistas, por toda a população e não só por ele.
O Zé tocou com o seu dedo verde em tudo o que temos hoje na área artística: a SMC, as leis de fomento, o extinto Projeto GentEncena, isso para citar algumas coisas. Escreveu um, dois, dez livros? Não interessa! Inscreveu milhares de frases significativas, através da sonoridade e da imagem corporal. Palavras e imagens que ecoaram, ainda ecoam e vão ecoar muito também através de outras pessoas. Hoje ele sofre pelo lixo dito arte que nossas crianças comem, e também isso vai fazer efeito na sociedade. O Zé foi e é livre. Sem se prender a instituições, ele voou pra onde ele quis ou achou necessário. E hoje pousou aqui, sem pó nem cheiro de naftalina. Graças aos deuses e às deusas, mais um cidadão caxiense que não se encaixa nos moldes, mas está ocupando o que lhe é de direito, se é esse o seu desejo. Sem fazer mal a ninguém, a não ser aos moralistas. Em nome de todos da ACAT e muito mais, o nosso abraço sem condição nenhuma.
Foto: Tina Andrighetti coordenadora da ACAT e Zé do Rio.

sábado, 5 de junho de 2010

Homenagem à ACAT




Discurso proferido pela Coordenadora Tina Andrighetti, no dia 21 de outubro de 2009. (Durante homenagem na Câmara de Vereadores - indicação encaminhada pelo Vereador do PT Rodrigo Beltrão, aceita unanimemente por todos (as) vereadores (as) das bancadas.




Boa tarde a todos. Gostaria de cumprimentar o Presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Elói Frizzo, os vereadores, as vereadoras e a todos aqui presentes. E os meus colegas, que vieram compartilhar esse importante momento. E ao vereador Rodrigo Beltrão, pela gentileza dessa iniciativa.

Em nome da coordenação da ACAT, gostaria também de cumprimentar a todos os colegas que participaram de outras gestões – Zika Stockmans, Roque Backendorf, Jorge Valmini, Ranulfo dos Santos, Juarez Barazzetti e também todos os colegas e simpatizantes - pois a Associação vem marcando sua presença num crescente, e cada um que a integrou exerceu um papel fundamental.

É com surpresa e muita satisfação que recebemos a notícia dessa homenagem. Em 20 de julho desse ano, a ACAT – Associação Caxiense de Teatro completou vinte anos. Para comemorar, realizamos um debate e uma festa. Hoje, essa homenagem vem complementar, dando uma idéia de que as comemorações continuam, pois estamos nos sentindo sinceramente presenteados.

A ACAT surgiu em 20 de julho de 1989, em meio a necessidades e expectativas num cenário artístico e cultural que já vinha insinuando seu potencial. A atividade teatral já marcava presença há muito tempo e era de fundamental importância uma entidade que unificasse e defendesse os interesses comuns, dando aos artistas também o status de uma classe organizada. Míseri Coloni, Misturas e Bocas, Oficina Um, Trancos e Barrancos, Mímesis, TER, In Atos, Uma Pontinha pra Fora, Ribeiro Cancela, foram os primeiros grupos a se reunir em torno dessa idéia.
Antes, ainda, na década de 60, existia o Ateliê de Teatro da Aliança Francesa, com o sr Nilton Scott, como um dos integrantes, grupo que certamente impulsionou o teatro na cidade e, conseqüentemente, sua necessidade de organização. É curiosa a linha do tempo. Naquela época esse grupo lamentava os 18 metros quadrados que dispunham para apresentações, lamentavam as dificuldades artísticas e monetárias e reivindicavam a construção de um Teatro Municipal. Hoje, lamentamos as mesmas coisas e continuamos a reivindicar o Teatro Municipal, mas agora como espaço apenas para as artes. E reclamamos por mais espaços, pois a demanda é outra. Sinal de crescimento.

Da criação da ACAT até hoje muitas foram as ações e parcerias. E como toda comemoração traz consigo reflexões, achamos pertinente repetir aqui uma reflexão lançada por ocasião do aniversário, no qual dizemos que, ao longo desses anos, e especialmente neste, todos nos perguntamos quem é a Associação Caxiense de Teatro e a que veio. Por quem é formada e que representatividade possui. Em meio a altos e baixos, a aparições vaidosas e momentos de apatia, a ACAT busca sua identidade, num ir e vir de uma Caxias que ainda se descobre cultural e artisticamente.

Num contexto de insegurança e incerteza, é salutar ainda nos perguntarmos todo dia se estamos inteiros, até que ponto estamos costurados a essa estrutura capitalista que, numa velocidade estonteante, apropria-se de tudo e transforma também gente e arte em mercadoria. Velocidade tal, que nos acostumamos a repetir isso sem entendermos muito bem como e em que nos emaranhamos, enchendo-nos de contradições, como tornar simplista a visão do mendigo dormindo na rua - “normal para o contexto”, ou aderir a dizeres como “tudo é arte”, ao mesmo tempo que reclamamos. Se prestarmos atenção, significados e valores que damos às coisas, às pessoas e acontecimentos, fazem parte do mesmo movimento. E refletem os afetos de cada um.

A que veio e para quem?
A ACAT é a cara dos tempos? A ACAT é a nossa cara?
Essa reflexão é necessária, porque uma Associação não se faz de papéis, e sim de pessoas. E mesmo com direito a comemorações, não queremos tinta nova na fachada, nem um laço de fita. Pelo contrário, queremos uma tomografia. Por isso a reflexão deve ir além. A Associação, antes de qualquer coisa deve representar o teatro na sua essência. Como disse Oduvaldo Vianna Filho, um dos maiores dramaturgos brasileiros, “...a função do teatro é ser educativo. Não no sentido didático e informativo. Educativo no sentido da organização subjetiva do homem”. O teatro trabalha com o sentimento, com o coração e dialoga com o oculto. E não é da sua natureza pactuar com o que leva o mendigo a dormir na rua e muito menos pactuar com “tudo é arte”. Como não é da sua natureza ficar “adaptando” suas criações aos interesses elitistas, fugazes e individualistas. Assim, uma Associação, no nosso entender, deve articular os interesses diversos, mas tendo como único foco, em todas suas ações, o fazer teatral que edifica e dignifica o ser humano. Do contrário, ela é uma Associação de qualquer coisa, menos de uma forma de arte transformadora por excelência. Diz Peter Brook, importante diretor teatral, que a arte do teatro precisa ter substância e significado, e que a substância, é a densidade da experiência humana. Portanto, do sensível.

É isso que buscamos ou que devemos buscar em cada diálogo que temos com o poder público, com as empresas, com os espaços, com os colegas, com vocês hoje. De que forma podemos ser parceiros na arte e na cultura, deixando o teatro ser o que ele é e viabilizando o que ele necessita. É essa a densidade que buscamos incansavelmente no Gentencena, projeto que tem sido possível porque o diálogo entre as partes está conquistando uma qualidade cada vez mais refinada. Porque se entende a urgência em devolver ao indivíduo o direito à verdade e à expressão genuína.

E com esse pensamento, a Associação segue sua luta, buscando recuperar um fiar junto, que se perdeu no autoritarismo, em nome da arte, do ser humano e de um presente melhor. Sem esse, não tem futuro melhor.

Sem falsa modéstia, achamos que nossa cidade ganha muito com isso. Por isso, essa homenagem é para toda a sociedade.
Obrigada.

Início

Primeiras reuniões para formar a ACAT se realizaram em 1988.

Núcleo de Oficinas - Oficinas e Encontros




Realizações do Núcleo de Oficinas:
- Seminário “Permanência das Vanguardas”, com Jessé Oliveira (2005)
- “Oficina e Criação de Textos Dramáticos”, com Paulo Berton (2007)
- Colóquio “Ética na Arte”, com os temas “A Essência na Prática Artística” e “Dramaturgia no Séc. XXI”, com PR Berton, Paulo Medeiros de Albuquerque, Liliane Viero Costa e Luis Fernando da Rosa(2007)

Realizações do Núcleo junto ao Projeto Gentencena em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura
- “Teatro de Rua”, com Helena Quintana (2001)
- “Oficina de Dramaturgia”, com Luis Paulo Vasconcelos”(2003)
- Curso “Experimentos em Teatro: Aspectos teórico-práticos”, com Jezebel De Carli
( 2005)
- Curso “Teatro de Rua e Espaços Alternativos”, com Jessé Oliveira (2006).
- “Oficina de Ritmos”, com Cristiane Ferronato (2005 e 2009)
- “Oficina de Metodologia e Prática Pedagógica” com Paulo Medeiros de Albuquerque (2008)
- “A Cena Pensada Colaborativamente”, com Jezebel de Carli (2009)
- “Oficina de Voz”, com Gutto Basso (2009)
- “Semana do Teatro”, com a vinda de Maria Helena Kühner e Paulo Medeiros de Albuquerque (2010).

Foto: Curso “Teatro de Rua e Espaços Alternativos”, com Jessé Oliveira (2006).

Breve Histórico da ACAT






Fundada em 15 de julho de 1989, a Associação Caxiense de Teatro – ACAT surgiu frente a necessidade de organização dos grupos que se formavam, transformando a realidade teatral em Caxias do Sul. Com o objetivo de desenvolver o teatro e representar o interesse de seus associados, já realizou diversos seminários, oficinas , mostras e feiras.
Em 1997 é criada a Secretaria Municipal da Cultura, ganhando a cena teatral na cidade uma nova dimensão, a partir da reflexão sobre políticas públicas para a cultura e a arte local. Como resultado, a ACAT celebra convênio com a Prefeitura de Caxias para a realização do projeto GentEncena, amparado na Lei Municipal 5.017, de 21 de dezembro de 1998. Criado no ano anterior por colegas da área, num contexto de inquietações e expectativas na cena cultural, inicia o processo de descentralização do teatro, desenvolvendo gratuitamente oficinas teatrais em bairros da cidade, e estimulando também o aprofundamento da prática teatral. Com a realização do convênio, tornou-se possível ampliar a área de atuação, além de valorizar o trabalho dos oficineiros, criando-se novas exigências quanto a sua qualificação, mediante a própria natureza do Projeto.
Em agosto de 1998, A ACAT participou do projeto de reforma do Teatro Municipal (Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima) e do projeto de revitalização da Cantina Antunes (espaço que hoje abriga o Centro Municipal de Cultura Dr Henrique Ordovás Filho).
Em janeiro de 2004 é criado o Núcleo de Oficinas, órgão da ACAT que tem por finalidade qualificar e aprimorar profissionalmente os oficineiros através de cursos, oficinas, seminários e outras atividades teórico-práticas, que promovam reflexões sobre o fazer teatral. Atualmente algumas atividades que promove têm se estendido também a todos que buscam se aprofundar: além dos oficineiros, oficinandos, professores e alunos, atores e atrizes.
Em 2005 apóia o espetáculo “Inferências”, do bailarino Nei Morais. Continuando parcerias, em 2006 é proponente do projeto “Binômio”, do Grupo Teatral Atores Reunidos, aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC Estadual), apoiando a circulação dos espetáculos “Sós” e “Extremos”. É representante na comissão das artes cênicas na Capital Brasileira da Cultura (CCBC), em 2008.