sábado, 5 de junho de 2010

Homenagem à ACAT




Discurso proferido pela Coordenadora Tina Andrighetti, no dia 21 de outubro de 2009. (Durante homenagem na Câmara de Vereadores - indicação encaminhada pelo Vereador do PT Rodrigo Beltrão, aceita unanimemente por todos (as) vereadores (as) das bancadas.




Boa tarde a todos. Gostaria de cumprimentar o Presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Elói Frizzo, os vereadores, as vereadoras e a todos aqui presentes. E os meus colegas, que vieram compartilhar esse importante momento. E ao vereador Rodrigo Beltrão, pela gentileza dessa iniciativa.

Em nome da coordenação da ACAT, gostaria também de cumprimentar a todos os colegas que participaram de outras gestões – Zika Stockmans, Roque Backendorf, Jorge Valmini, Ranulfo dos Santos, Juarez Barazzetti e também todos os colegas e simpatizantes - pois a Associação vem marcando sua presença num crescente, e cada um que a integrou exerceu um papel fundamental.

É com surpresa e muita satisfação que recebemos a notícia dessa homenagem. Em 20 de julho desse ano, a ACAT – Associação Caxiense de Teatro completou vinte anos. Para comemorar, realizamos um debate e uma festa. Hoje, essa homenagem vem complementar, dando uma idéia de que as comemorações continuam, pois estamos nos sentindo sinceramente presenteados.

A ACAT surgiu em 20 de julho de 1989, em meio a necessidades e expectativas num cenário artístico e cultural que já vinha insinuando seu potencial. A atividade teatral já marcava presença há muito tempo e era de fundamental importância uma entidade que unificasse e defendesse os interesses comuns, dando aos artistas também o status de uma classe organizada. Míseri Coloni, Misturas e Bocas, Oficina Um, Trancos e Barrancos, Mímesis, TER, In Atos, Uma Pontinha pra Fora, Ribeiro Cancela, foram os primeiros grupos a se reunir em torno dessa idéia.
Antes, ainda, na década de 60, existia o Ateliê de Teatro da Aliança Francesa, com o sr Nilton Scott, como um dos integrantes, grupo que certamente impulsionou o teatro na cidade e, conseqüentemente, sua necessidade de organização. É curiosa a linha do tempo. Naquela época esse grupo lamentava os 18 metros quadrados que dispunham para apresentações, lamentavam as dificuldades artísticas e monetárias e reivindicavam a construção de um Teatro Municipal. Hoje, lamentamos as mesmas coisas e continuamos a reivindicar o Teatro Municipal, mas agora como espaço apenas para as artes. E reclamamos por mais espaços, pois a demanda é outra. Sinal de crescimento.

Da criação da ACAT até hoje muitas foram as ações e parcerias. E como toda comemoração traz consigo reflexões, achamos pertinente repetir aqui uma reflexão lançada por ocasião do aniversário, no qual dizemos que, ao longo desses anos, e especialmente neste, todos nos perguntamos quem é a Associação Caxiense de Teatro e a que veio. Por quem é formada e que representatividade possui. Em meio a altos e baixos, a aparições vaidosas e momentos de apatia, a ACAT busca sua identidade, num ir e vir de uma Caxias que ainda se descobre cultural e artisticamente.

Num contexto de insegurança e incerteza, é salutar ainda nos perguntarmos todo dia se estamos inteiros, até que ponto estamos costurados a essa estrutura capitalista que, numa velocidade estonteante, apropria-se de tudo e transforma também gente e arte em mercadoria. Velocidade tal, que nos acostumamos a repetir isso sem entendermos muito bem como e em que nos emaranhamos, enchendo-nos de contradições, como tornar simplista a visão do mendigo dormindo na rua - “normal para o contexto”, ou aderir a dizeres como “tudo é arte”, ao mesmo tempo que reclamamos. Se prestarmos atenção, significados e valores que damos às coisas, às pessoas e acontecimentos, fazem parte do mesmo movimento. E refletem os afetos de cada um.

A que veio e para quem?
A ACAT é a cara dos tempos? A ACAT é a nossa cara?
Essa reflexão é necessária, porque uma Associação não se faz de papéis, e sim de pessoas. E mesmo com direito a comemorações, não queremos tinta nova na fachada, nem um laço de fita. Pelo contrário, queremos uma tomografia. Por isso a reflexão deve ir além. A Associação, antes de qualquer coisa deve representar o teatro na sua essência. Como disse Oduvaldo Vianna Filho, um dos maiores dramaturgos brasileiros, “...a função do teatro é ser educativo. Não no sentido didático e informativo. Educativo no sentido da organização subjetiva do homem”. O teatro trabalha com o sentimento, com o coração e dialoga com o oculto. E não é da sua natureza pactuar com o que leva o mendigo a dormir na rua e muito menos pactuar com “tudo é arte”. Como não é da sua natureza ficar “adaptando” suas criações aos interesses elitistas, fugazes e individualistas. Assim, uma Associação, no nosso entender, deve articular os interesses diversos, mas tendo como único foco, em todas suas ações, o fazer teatral que edifica e dignifica o ser humano. Do contrário, ela é uma Associação de qualquer coisa, menos de uma forma de arte transformadora por excelência. Diz Peter Brook, importante diretor teatral, que a arte do teatro precisa ter substância e significado, e que a substância, é a densidade da experiência humana. Portanto, do sensível.

É isso que buscamos ou que devemos buscar em cada diálogo que temos com o poder público, com as empresas, com os espaços, com os colegas, com vocês hoje. De que forma podemos ser parceiros na arte e na cultura, deixando o teatro ser o que ele é e viabilizando o que ele necessita. É essa a densidade que buscamos incansavelmente no Gentencena, projeto que tem sido possível porque o diálogo entre as partes está conquistando uma qualidade cada vez mais refinada. Porque se entende a urgência em devolver ao indivíduo o direito à verdade e à expressão genuína.

E com esse pensamento, a Associação segue sua luta, buscando recuperar um fiar junto, que se perdeu no autoritarismo, em nome da arte, do ser humano e de um presente melhor. Sem esse, não tem futuro melhor.

Sem falsa modéstia, achamos que nossa cidade ganha muito com isso. Por isso, essa homenagem é para toda a sociedade.
Obrigada.

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